quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

GÁS CARBÔNICO

poema de Gilberto Wallace Battilana

Queria tanto recordar meus sonhos.
Acordo, e só o vazio me acolhe.
Se recordasse meus sonhos, suponho,
seria mais feliz. Reponho os óculos
sobre o nariz e sigo o poema que ainda não fiz.
A minha vida é despida de qualquer fantasia.
Só tenho a mim e ao dia,
seus relógios e jornais,
e nada mais.
O poema é o meu protesto,
único manifesto que me permite o mundo,
cartaz que levanto solitário
frente ao tumulto que me afoga em gás carbônico
entre homens que o tempo apressa, catatônicos.
Em cada verso invento um sentido,
assim alcanço a percepção do meu limite,
os fatos existenciais não acontecem,
e a minha vida desaparece,
só as persistentes palavras permanecem
acesas, avançando pela noite do futuro,
paisagens de uma arquitetura a se fazer.
Como nomear o não visto, o só pensado?
A poesia nem liga para o obscuro,
continua, única e eterna.
Não a minha, ou a tua, mas a de uma corrente
permanente que enlaça o tempo, o espaço,
o pensamento, na mesma centelha de um invento.
Por mais que me ataquem as intempéries violentas
da vida, matenho-me de pé contra a tormenta.
Nem todos lembram a senha do Abre-te Sésamo da poesia,
é necessário repeti-la dia a dia e lutar com palavras e sonhos
nas longas jornadas das noites, só com a luz dos nosso olhos,
de sombra em sombra.



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